Construção do enredo

 Construção do enredo - a não-linearidade e o desfecho inesperado

No momento em que se deixa levar totalmente pela leitura, pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, a história do homem de negócios se apaga e ele se torna personagem de outra história. Nela há um casal de amantes que se encontram, pela última vez na cabana do mato... O homem de negócios, o leitor da primeira história, vira testemunha do encontro que pertence à segunda: uma história passional, misteriosa, de suspense. Há um triângulo amoroso e alguém deve ser morto...



Assim, trata-se de um enredo não-linear: o enredo da 1a história é suspenso e substituído pelo enredo da 2a história... até o desfecho inesperado, quando ambas se reencontram.

• Tempo e espaço

No momento em que as duas histórias presentes no conto começam a se misturar, há uma frase muito sugestiva para a sua compreensão mais profunda: Começava a anoitecer.

Por meio da introdução dessa categoria temporal, o leitor tem pista do que vai ocorrer: a mistura das fronteiras entre a realidade (um homem lê um romance) e a fantasia (o conteúdo do romance que o homem está lendo). 
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Como sabemos, a noite é propícia à fantasia, pois indefine e contunde os contornos dos seres, tornando imprecisos os limites entre sonho e realidade. Neste clima noturno, crepuscular, dá-se o desfecho do conto, reunindo numa só a primeira e a segunda histórias. Agora, de testemunha que era, o leitor passa a se confundir com a vítima: o homem que vai ser morto pelo amante da mulher, a qual parece ser a autora das indicações para se cometer o assassinato:

Subiu os três degraus do pórtico e entrou. Pelo sangue galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.

Seria o leitor o "marido traído"?

Esta é uma das interpretações possíveis, mas não podemos ter certeza de nada: o assassinato fica subentendido no desfecho do texto, assim como fica subentendida a "coincidência" entre o leitor e o homem que deve ser morto, através de um tipo de linguagem que já mencionamos - a linguagem telegráfica.

A interpenetração de histórias, que quebra a linearidade do enredo e provoca o desfecho inesperado, surpreendente, constituem elementos fundamentais da construção do enredo do conto. Um conto cuja última cena evoca o seu início: um homem de negócios lendo um romance...

Nele ocorre exatamente o que o título sugere, por meio da evocação de uma categoria espacial: continuidade dos parques. Essa categoria, tanto quanto aquela que se refere ao tempo (tarde / crepúsculo / noite), mostra-nos o deslizar entre realidade e fantasia, que se dá no decorrer da história.
O parque dos carvalhos que serve de cenário ao leitor é o mesmo em que ocorre a busca do homem que precisa ser morto; quer dizer, o espaço da realidade continua na fantasia novelesca, provocando a interpenetração entre ambas, quando de fato merguIhamos na leitura de um livro...

Conclusões importantes

A escolha do tipo de narrador; a propriedade do foco narrativo, da caracterização dos personagens; a adequação das falas; a coerência interna do enredo etc, constituem os elementos característicos do texto narrativo, que devem ser levados em conta para se compor uma história. Além de organizá-los com coerência e verossimilhança, é necessário também avaliar a originalidade da construção, a criação pessoal, ou seja, a capacidade de invenção e de articulação de uma trama.
Entretanto, na medida em que todos esses aspectos se expressam via linguagem, ela os engloba e lhes dá consistência. Portanto, o principal critério para se avaliar um texto narrativo é verificar sua estrutura lingüística, tendo em vista a adequação entre forma e conteúdo, entre intenção - o que se pretendeu contar - e realização - o que efetivamente se conseguiu contar.

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